sexta-feira, 12 de julho de 2013

Antes da Meia-Noite*



A idade passou

Antes da Meia-Noite (2013 – EUA), de Richard Linklater, se inicia com uma câmera despretensiosa, um movimento fluido e dois personagens conversando, um resumo do filme inteiro, e até certo ponto dos outros dois da trilogia. Na sequência, em plano simples e brilhante que antecede a entrada do título em tela, o filho da abertura e no aeroporto, com o caminhar de Jesse (Ethan Hawke), é substituído pela Celine (Julie Delpy) que ele conheceu num trem há quase 20 anos, num envelhecer que o filme assume sem vergonha.

Porque se em Antes do Pôr-do-Sol (2004) víamos imagens de Antes do Amanhecer (1995), em um golpe baixo que funcionava bem pelo lado afetivo, agora o público não tem acesso a esse passado. Dos três, o filme é o mais direto e cruel.

Vemos a nudez que não acontecia nos outros dois, mas vemos um sexo não acontecer, e vemos a frustração dupla. Existe uma espécie de final feliz, mas com base em tudo que acompanhamos da vida daquele casal, ele é absurdamente momentâneo, em seguida voltando todo um conflito com o qual eles têm de lidar diariamente.

Se Antes do Amanhecer trazia uma vontade de viajar pelo mundo e conhecer pessoas, e Antes do Pôr-do-Sol era carregado de saudade com dose de esperança, Antes da Meia-Noite não me faz visualizar muita gente querendo casar logo depois de vê-lo.

Agora eles são um casal perto das bodas, com doses homeopáticas e cada vez mais raras de romantismo. Dessa vez, o amor tem menos espaço que o tragicômico. Só que isso me parece mais uma visão mais distanciada dos outros filmes que um defeito.

Com os já esperados planos longos, Jesse e Celine conseguiram ficar mais à vontade do que sempre estiveram, apesar do aumento das brigas. Bagagem e especificidades culturais à parte, a discussão deles parece a de um casal que tenha intimidade, história e incertezas. Com a diferença que a deles é (não só) divertida.

Como os outros dois filmes, Antes da Meia-Noite versa sobre uma das coisas mais mundanas que existe, a relação de um casal, em abordagem despretensiosa, simples e nada ordinária. Como nos outros filmes, um mais do mesmo, só que um mais do mesmo acima da média.

O desfecho bonitinho talvez, e aí saliento o talvez, não esteja do mesmo nível do final de Antes do Pôr-do-Sol, mas é inevitável admitir que a sintonia de tela entre dois personagens, durante uma hora e meia em um filme de personagens, é uma coisa rara no cinema americano de hoje.

* Texto também publicado em http://cinematotal.com/la.

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